domingo, 31 de agosto de 2014

identificação...

O poema não é meu, nem poderia ser! Quem me dera pudesse escrever com tamanha maestria e sutilidade, alegria e humildade. Se fosse meu, certamente eu seria só felicidade. Mas não é. Fazer o quê? Se inspirar... Procurar uma boa fotografia e publicar, sem deixar de mencionar de quem são as mãos que produziram essa belezura. Fiquei tão emocionada, me encantei de cara! Não precisei reler para saber do que se tratava, aliás, antes de terminar a leitura eu já continuava só que agora do lado de fora do livro e do lado de dentro do meu coração. Tenho sérias dúvidas se foi feito para mim, arrogância, não? Petulância de minha parte pensar assim, mas é que me encontrei nessas linhas, nessa poesia, nessas entrelinhas...



Arrebentação

Eu não vou mais me apequenar para caber no mundo. Não vou deixar de ir ao baile pela ausência do traje adequado e, lamento, mas daqui pra frente, nada de sorrisos disfarçados. Ah, e tem mais: eu não vou pedir desculpas pela cor dos meus sapatos.

Os meu métodos e a medida dos meus quadris são a minha identidade. Eu não vou mais ser discreta e nem varrer os sonhos pra debaixo do tapete. Eu não sou um currículo e não vou mais me esmagar pra encaixar meu corpo dentro de um uniforme. Eu não nasci de uma fôrma, de um molde. Eu tenho um nome e quero ser chamada por ele.

Eu não vou mais me acabrunhar. Não vou abrir mão da minha vez, do meu voto, do meu lugar. Nem vou mais refugiar os olhos no breu das pálpebras, quando me encaram. Eu quero mais é revidar, me agigantar, reconhecer minha sombra no chão e apreciar a dimensão e a forma que ela toma por onde passo.

Eu não vou mais terminar as coisas com pontos finais, nem vou suspender minhas declarações de amor no fundo falso do céu da boca. Não viver me deixa muito cansada. Eu não vou mais pedir licença para existir, nem vou me desculpar pelos meus vícios, pelas roupas que uso ou pela porra da cor que escolhi para os meus calçados.

A minha essência prevalece abrindo os braços, se espreguiçando, rebentando o mundo com seus centímetros a mais. Eu me recuso a andar para trás. Lagarta que se transmuta em borboleta não volta pra dentro da caixa; Menino que se infinita em luz, ninguém ofusca; Cigarra que se assume quando canta, vira canção...

                                                 (Maíra Viana Barros - O Teatro Mágico em Palavras II - Diálogos)

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