Neste ano estive mais sóbria que de costume.
Desde o carnaval: fiz questão de não torcer para nenhuma escola de samba, na verdade eu estava indiferente. (Pra ser sincera, diga-se de passagem, a única escola que eu quero ver sempre campeã é a escola pública). Voltando, eu já não sou fã do carnaval mesmo, nem foi tão difícil não me importar.
Fui sensata. Votei branco!
Na copa do mundo, realizada em meu país, eu não estava nem aí: claro que assisti aos jogos e sofri muito vendo minha seleção jogando (diga-se de passagem, bem desastrosamente) mas, não vibrei como em outras copas do mundo. Sem falar daquela vitória da Alemanha, que eu senti como se fosse um balde de água gelada, como naquele desafio lançado (diga-se de passagem, desnecessário) do balde de gelo.
Mas, então a eleição chegou. E eu estava convicta a votar pela primeira vez (diga-se de passagem) em branco. Pois é... eu que, na eleição passada, votei e vibrei com a vitória da presidente Dilma Rousseff, fiquei decepcionada com o andamento do governo. Sim, eu reconheço as melhorias, as inúmeras melhorias não só em relação à moradia ou à educação, mas principalmente por ver direitos básicos sendo garantidos. E, confesso: é bom demais ver o pobre não sendo mais tão miserável. Com a oportunidade de enfim, viver. Lembro como se fosse agora da propaganda eleitoral de Lula: "no meu governo vou garantir que as famílias tenham pelo menos as três refeições básicas". E isso foi cumprido. Porém, quando eu votei no PT desde a eleição de 2006, eu imaginei que seria um governo de transparência. Mais que isso, um governo em que as pessoas pudessem além de ter poder de compra, além de conseguir ascender economicamente, além de poder viver de forma mais digna, que também pudessem ter consciência crítica, autonomia, autoria, emancipação intelectual. Eu sei: se a gente não comer, é impossível viver. Mas, era preciso avançar mais. Eu não vou nem citar a questão do mensalão. Não é por nada não, até porque eu não sou a Revista Veja para ser "imparcial" e tudo o que eu escrevo ou sinto, ou que eu já senti, ou eu sentirei. Então, sempre vou escrever a partir do que sinto e eu tenho total convicção de que nos governos anteriores ao PT, o que houve de quadrilha, de rouba monte e de sujeira debaixo do pano que ninguém, nem mídia nenhuma se deu o trabalho de apurar ou publicar, existiu e até hoje nunca se puniu ninguém. Mas, isso não convém falar, né?!
Eu iria votar branco... Num lapso de lucidez completa.
Após a leitura da obra de José Saramago, Ensaio sobre a Lucidez, fiquei decidida a votar em branco. Não queria o retrocesso, a volta do PSDB. Isso eu já sabia: Aécio, never! Por outro lado, queria mudar. As manifestações de junho de 2013 me mostraram que tinha muita coisa no governo do PT que estava fora do lugar, que tinha muita coisa ainda para melhorar. Por sua vez, a outra candidata parecia mais uma bola de ping-pong, eu não conseguia entender o que ela realmente queria.
Porém, meu estado de lucidez foi breve.
Sem querer, querendo, assisti uma entrevista da Luciana Genro e me encantei com as propostas dela. Com sua visão de mundo, sua confiança e determinação. Se ela fosse nordestina eu diria que ela é uma mulher muito da retada, que não leva desaforo pra casa e que bota qualquer um com a cara no chão, apenas usando sua sensatez, inteligência, perspicácia e "sangue no olho". Eu sabia que ela não teria chances, já que veio de um partido nanico, sem muita expressão. Que pena! A mesma utopia que ela se referia, era a mesma que eu queria ver acontecer.
Se eu votei com a razão ou com o coração, eu não sei.
Só sei que Luciana Genro tem toda a minha admiração. E não é só porque ela queria a criminalização da discriminação contra LGBT e implantação de políticas concretas de combate à homofobia. Mas, principalmente, porque ela tem a mesma visão de socialismo que eu tenho. Quando eu votei nela e em todos os seus candidatos do PSOL, lembrei das aulas de sociologia na faculdade, lembrei dos textos que li e de alguns que escrevi, lembrei dos meus alunos das escolas públicas do interior da Bahia, lembrei das manifestações de junho de 2013. Enfim, lembrei que falta tanta coisa ainda para se construir o Brasil que eu gostaria de ver e de viver...
Contudo, não vai ser dessa vez. Mesmo assim, estou feliz com a minha insensatez! Mais que a doçura de ver acontecer, é ter esperança recheada de acidez.
domingo, 5 de outubro de 2014
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