quarta-feira, 27 de junho de 2012

metade vazio


Meus primeiros alunos faziam parte do Projeto Vivenciando o Meio Aquático, que durou de maio a dezembro de 2010. Até então eu nunca tinha sido  professora. Mas ser professora de Natação foi tão tranquilo, pratiquei o esporte por quase 10 anos de minha vida. Então, os livros e os professores só me auxiliaram em algumas questões pedagógicas, mesmo.
Lembro de cada rostinho, a expectativa, a ansiedade, a frustração... o irônico da história é que eles me deram uma coisa que até hoje é insubstituível: carinho.
Sim, confesso, tenho uma carência desesperadora. Qualquer manifestação de afeto e eu já me derreto toda. E estes meus alunos do Projeto Vivenciando o Meio Aquático foram os primeiros a mostrar sua afeição... mas o certo é que por ser a Natação, esse processo foi bastante facilitado, porque todo mundo gosta de água, ela por si só já é um elemento lúdico. Porém, o que eles passaram pra mim, até hoje me emociona, eles não apenas aprenderam a nadar, ou pelo menos se relacionar com o meio líquido. Eles mostraram que o esporte é um mero detalhe, mais importante são as relações que estabelecemos.


Em seguida, vieram os alunos do SESI - Projeto Atleta do Futuro. Essa experiência foi muito desafiadora pra mim, particularmente, porque eu iria substituir a professora que eles amavam, e que - cá pra nós - é de uma competência sem igual. Fiquei apavorada com essa imensa responsabilidade, mas fui mostrando pra eles que cada um tem o seu jeito único e que, por isso mesmo devemos aproveitar cada momento com as pessoas que estão ao nosso lado, porque elas são únicas. Comecei em dezembro de 2010 e fiquei com eles até julho de 2011, porque tive que optar pela Iniciação Científica, caso contrário, faria de tudo para continuar com eles. Nossa, quantas vezes cheguei na aula cansada, triste, desestimulada... e, eles simplesmente me recebiam com um sorriso, com um brilho no olhar, com bombons (hummm) que mudava completamente o meu dia. E conversavam tanto comigo. A aula era de natação - mais uma vez a água facilitando o processo - mas por inúmeras vezes me senti como psicóloga e quase sempre uma amiga com quem meus alunos sabiam que poderiam contar pra tudo e era exatamente o que acontecia... só que amigos, nem sempre nos dizem o que queremos ouvir, dizem também o que merecemos ouvir. Ai, que saudade do abraço apertado, da exigência em parabenizá-los por cada ínfima conquista. Se eles soubessem o quanto eu me sentia feliz e satisfeita por cada braçada que eles davam, nem precisavam ter cobrado tanto os meus curtos e contidos elogios.

 
E então começara o Estágio Supervisionado I, na escola Fernando Barreto, turma da 7ª série matutino. Dessa vez, eu não poderia mais contar com a ajuda da água para conquistar a amizade e simpatia dos meus alunos. Por outro lado, Vaninha estava comigo e isso me deu uma segurança tão grande. Juntas planejávamos as aulas, e juntas ministrávamos as aulas de Educação Física, cuja temática principal era Atividade Física e Saúde. Mas a turma só queria saber do tal do baba. Oh meu Deus! quanto trabalho eles nos deram, mas após os 3 meses do estágio (abril, maio e junho de 2011) eles compreenderam a importância de entender que a atividade física e saúde é o conteúdo geral de tudo que rodeia a Educação Física. Mas, acima de tudo, eles assimilaram algo que nem eu nem Vaninha dissemos diretamente: mais importante que praticar qualquer atividade física, é estar ao lado das pessoas que nos fazem bem, é a amizade, a união, que muitas vezes são exercidas na prática de algum esporte ou ourta atividade física. Jamais esquecerei suas dúvidas, incertezas, seus argumentos, sua atenciosidade e principalmente o carinho e o respeito com que nos trataram desde o início.


E então, chegara o Estágio Supervisionado II, no Caic, com as turmas da creche e da 2ª série. Pra ser sincera, não me sentia nem um pouco preparada para lidar com estes alunos. Dessa vez o desespero foi aterrorizante porque eu não só não teria a ajuda da água, como não tinha trabalhado com crianças de 3 anos. Fiquei desnorteada por não saber o que e como fazer. Porém, o professor da disciplina e o colega Miquéias, que realizou o estágio 2 comigo me deram todo apoio do mundo e seus conselhos foram de suma importância para que eu me tranquilizasse nesse período que durou de novembro de 2011 a abril de 2012. Só sei que após o primeiro contato com eles, percebi que meu desespero era totalmente desnecessário, porque os alunos do Caic, como eu, são de uma carência de carinho mesmo, sabe? tão grande que não tem como não se apegar e criar laços. No caso específico dos alunos do Caic, o momento das aulas de Educação Física era o momento mais esperado da semana, porque eles não tinham em sua escola a Educação Física escolar. E era nítido o brilho do olhar deles, quando eu e Miquéias chegávamos nas aulas com o material de apoio: bolas, cones, bambolês, cordas. Nossa, alguns terminavam o lanche imediatamente pra chegar logo na aula, e aquilo me dava uma noção de responsabilidade tão grande que tive que ler muitos livros para poder não decepcioná-los. No final das contas, eles ganharam muito pela oportunidade de ter aulas de Educação Física, mas eu ganhei muito mais, não só pela experiência única, mas pelo carinho que recebi de todos eles!!!

Agora, metade do meu coração está vazio...