quarta-feira, 30 de novembro de 2016

parte IV

Ana estava radiante: nos últimos três anos de sua vida conseguiu realizar todos os trabalhos voluntários que sempre quis. Isso fez com que ela conhecesse vários lugares de seu país e de outros recantos do planeta, sem precisar gastar muito para isso. Além, é claro, de ter tido a oportunidade de conhecer muitas pessoas de diferentes credos, etnias e concepções de mundo. Ela se sentia finalmente realizada. Deixou de acumular riquezas para acumular sorrisos e paisagens. E em meio a tudo isso, se apaixonou de novo. Finalmente a imagem daquele moço de olhos claros e sorriso largo e tudo o que viveram juntos na sua primeira viagem internacional ficou num passado remoto, que habitava apenas as profundezas do seu subconsciente. Agora, Ana tinha encontrado um cara com os mesmos propósitos de vida que ela, com as mesmas perspectivas e vibrando numa mesma sintonia. Se existisse alma gêmea eles seriam a prova concreta de que pertenciam à mesma essência espiritual. Muitas vezes atuaram juntos nos trabalhos voluntários, pensavam em adotar filhos e bichos, morar num lugar tranquilo e sereno como o olhar dela... Os planos já estavam sendo direcionados para a vida a dois, ou três, quatro, cinco, ou quantos seres vivos quisessem viver por perto, no que em breve chamariam de lar. Estavam de acordo que seria bem longe da agitação dos grandes centros urbanos e toda a loucura pela conquista do capital financeiro.

Enquanto isso, do outro lado do planeta, após três casamentos fracassados, e com os negócios arruinados, aquele moço de olhos claros e sorriso largo, já não tinha mais brilho no olhar e nem tampouco um sorriso no rosto. Triste, falido e desesperançoso com a vida, ele lembrou do quanto foi feliz ao lado de Ana, Mas, não fazia a mínima noção de onde poderia encontrá-la. O desejo de vê-la mais uma vez na vida fez com que se re energizasse. Dessa vez, não iria postergar mais essa decisão. iria ao encontro dela nem que para isso tivesse que atravessar um oceano, ou a cordilheira do Himalaia. Ele precisava reencontrá-la, como precisava de ar para respirar. Vasculhou todos os seus e-mails numa procura insana de qualquer tipo de vestígio que Ana pudesse ter deixado naquele passado que viveram juntos. Lembrou-se que ela era enfermeira e tinha sonhos de realizar trabalhos voluntários em vários lugares do mundo. Fez buscas na internet por programas que acionavam voluntários da área da saúde, mas tudo foi em vão. Ele não conseguiu nenhum tipo de informação que o levasse até ela. No final daquele dia cansativo, exaustivo e praticamente improdutivo, o moço de olhos claros e sorriso largo chegou a duas conclusões: ou sua vida continuaria sendo inútil como tivera sido nos últimos três anos, ou ele seguiria os passos de Ana, numa vã tentativa de algum dia poder encontrá-la por acaso. Resolveu seguir essa ilusão. Se cadastrou em um dos programas de voluntariado mundo afora e embora fosse um cara mais voltado aos negócios, dedicaria sua vida a tornar outras vidas melhores, já que a sua já não tinha nenhum tipo de valor para ele próprio. Sem a possibilidade de reencontrar Ana e sem qualquer perspectiva de felicidade, sem dinheiro e sem nenhum tipo de noção do que fazer, ele resolveu seguir rumo ao mundo desconhecido que o esperava.