Com ele foi embora essa irritante esperança que insiste em me acompanhar dia após dia.
A greve dos caminhoneiros, apesar de justa e válida, trouxe à tona a clemência por parte da população brasileira pela intervenção militar, colocando em cheque minhas perspectivas de dias melhores, aumentando minha desconfiança em relação às eleições presidenciais deste ano. Não quero estar aqui se Bolsonazi for eleito. Ou se essa tal intervenção militar vingar.
A copa do mundo na Rússia está prestes a começar e acho que será a primeira copa do mundo de futebol em que não pretendo usar a camisa da seleção brasileira. Estou realmente com vergonha. Não apenas pelos intragáveis e indigestos 7 x 1 da Alemanha em 2014, na nossa casa. Mas principalmente porque estou rodeada de brasileiros que desconhecem sua própria história. E eu me sinto um pouco responsável por isso... porque eu poderia ter contribuído para que mais pessoas fossem esclarecidas sobre o passado do Brasil, a fim de que jamais ele volte a se repetir. Mas como diria o Gessinger: “a história se repete, mas a força deixa a história mal contada”.
Durante toda a minha trajetória pela escolarização básica as disciplinas de história e redação eram as minhas matérias preferidas. Geografia entrou pro time logo que deixei o ensino fundamental dois. Educação Física, por incrível que pareça, nunca compôs esse rol.
Então me questiono o porquê de eu não ter seguido a carreira de professora de História? Já que esta era a minha queridinha na escola... simples: tenho um irmão que me salvou de passar raiva e desgosto ao ter que lidar com seres humanos que acham que estudar o comunismo é doutrinação marxista ou que acreditam que a Ditadura militar no Brasil foi um tempo próspero e incorruptível. Não sei se choro, se rio ou se sinto pena!
Se eu seguisse por esse caminho dos dois um: ou eu morreria cedo de desgosto ou eu morreria cedo de vergonha alheia. Não teria escapatória senão a vontade de morrer. Por falar nisso, ainda ontem pensei nisso. Não tô falando de suicídio, embora tenha pensado nessa possibilidade inúmeras vezes durante a adolescência, quando julgava erroneamente que minha vida se resumia a passar no vestibular de Direito de uma Universidade pública porque se não conseguisse seria uma pessoa fracassada e desmerecedora da admiração dos meus pais. Depois que compreendi a imensidão da vida para além das regras pré-estabelecidas pela sociedade, percebi quão tola e manipulada eu fui.
Mas enfim, o que será que é morrer? Só deixar de existir ou deixar de contribuir com o mundo? Ou ambos? Ou nenhum desses? Quantas pessoas morreram por causa do regime militar brasileiro? Pra que? Por que? Será que elas continuam existindo e contribuindo para o mundo? E nisso me perco em divagações... São 1:26h do dia 30 de maio de 2018. Estou absolutamente cansada de ser brasileira. Tem como trocar de nacionalidade? Tem como trocar de coração? Tem como sentir menos vergonha? Se você souber o que fazer pra diminuir essa sensação de inutilidade e de incompetência diante da realidade do país, por favor, me avisa! Me dê uma dica. Minha foice e meu martelo estão enferrujando e a desesperança começa a me abater. Tô entregando os pontos e agradecendo por ter seguido a carreira na Educação Física. Seria muito frustrada como professora de História. Que os profissionais desta área se mantenham intactos e jamais leiam esse texto. É só o que eu quero pra agora: que eles se mantenham firmes. E que o sono me acolha e me faça esquecer destes dias sombrios e daqueles que estão por vir. Porque no Brasil é assim: tudo o que é ruim sempre pode piorar. Venho constatando isso desde 2016. E estou torcendo para que eu deixe de estar certa. Cansei de falar “Eu disse”. Quero acordar amanhã e constatar que essas preocupações serviram apenas pra me envelhecer. Porque no fundo é isso: a gente só quer envelhecer e morrer com a consciência tranquila de que fez o melhor que pôde.