quinta-feira, 31 de maio de 2018

Envelheci 10 anos ou mais neste último mês

O quinto mês do ano se findou.
Com ele foi embora essa irritante esperança que insiste em me acompanhar dia após dia.
A greve dos caminhoneiros, apesar de justa e válida, trouxe à tona a clemência por parte da população brasileira pela intervenção militar, colocando em cheque minhas perspectivas de dias melhores, aumentando minha desconfiança em relação às eleições presidenciais deste ano. Não quero estar aqui se Bolsonazi for eleito. Ou se essa tal intervenção militar vingar.
A copa do mundo na Rússia está prestes a começar e acho que será a primeira copa do mundo de futebol em que não pretendo usar a camisa da seleção brasileira. Estou realmente com vergonha. Não apenas pelos intragáveis e indigestos 7 x 1 da Alemanha em 2014, na nossa casa. Mas principalmente porque estou rodeada de brasileiros que desconhecem sua própria história. E eu me sinto um pouco responsável por isso... porque eu poderia ter contribuído para que mais pessoas fossem esclarecidas sobre o passado do Brasil, a fim de que jamais ele volte a se repetir. Mas como diria o Gessinger: “a história se repete, mas a força deixa a história mal contada”.
Durante toda a minha trajetória pela escolarização básica as disciplinas de história e redação eram as minhas matérias preferidas. Geografia entrou pro time logo que deixei o ensino fundamental dois. Educação Física, por incrível que pareça, nunca compôs esse rol.
Então me questiono o porquê de eu não ter seguido a carreira de professora de História? Já que esta era a minha queridinha na escola... simples: tenho um irmão que me salvou de passar raiva e desgosto ao ter que lidar com seres humanos que acham que estudar o comunismo é doutrinação marxista ou que acreditam que a Ditadura militar no Brasil foi um tempo próspero e incorruptível. Não sei se choro, se rio ou se sinto pena!
Se eu seguisse por esse caminho dos dois um: ou eu morreria cedo de desgosto ou eu morreria cedo de vergonha alheia. Não teria escapatória senão a vontade de morrer. Por falar nisso, ainda ontem pensei nisso. Não tô falando de suicídio, embora tenha pensado nessa possibilidade inúmeras vezes durante a adolescência, quando julgava erroneamente que minha vida se resumia a passar no vestibular de Direito de uma Universidade pública porque se não conseguisse seria uma pessoa fracassada e desmerecedora da admiração dos meus pais. Depois que compreendi a imensidão da vida para além das regras pré-estabelecidas pela sociedade, percebi quão tola e manipulada eu fui.
Mas enfim, o que será que é morrer? Só deixar de existir ou deixar de contribuir com o mundo? Ou ambos? Ou nenhum desses? Quantas pessoas morreram por causa do regime militar brasileiro? Pra que? Por que? Será que elas continuam existindo e contribuindo para o mundo? E nisso me perco em divagações... São 1:26h do dia 30 de maio de 2018. Estou absolutamente cansada de ser brasileira. Tem como trocar de nacionalidade? Tem como trocar de coração? Tem como sentir menos vergonha? Se você souber o que fazer pra diminuir essa sensação de inutilidade e de incompetência diante da realidade do país, por favor, me avisa! Me dê uma dica. Minha foice e meu martelo estão enferrujando e a desesperança começa a me abater. Tô entregando os pontos e agradecendo por ter seguido a carreira na Educação Física. Seria muito frustrada como professora de História. Que os profissionais desta área se mantenham intactos e jamais leiam esse texto. É só o que eu quero pra agora: que eles se mantenham firmes. E que o sono me acolha e me faça esquecer destes dias sombrios e daqueles que estão por vir. Porque no Brasil é assim: tudo o que é ruim sempre pode piorar. Venho constatando isso desde 2016. E estou torcendo para que eu deixe de estar certa. Cansei de falar “Eu disse”. Quero acordar amanhã e constatar que essas preocupações serviram apenas pra me envelhecer. Porque no fundo é isso: a gente só quer envelhecer e morrer com a consciência tranquila de que fez o melhor que pôde.


quarta-feira, 16 de maio de 2018

De lá pra cá

Dois meses se passaram.
E a cada ida e volta do percurso Vitória -Manhuaçu submergiram tantos textos... todos ficaram aqui dentro, na minha mente... e eu tinha tanta coisa pra contar, tanta coisa pra extravasar, tanta coisa pra vomitar...(Tudo é igual quando se pensa
Em como tudo deveria ser, há tão pouca diferença e há tanta coisa a fazer), mas ficou retido, preso e condenado a me ferir todas as vezes em que antes de dormir passei horas pensando neles e ao acordar no outro dia ao invés de materializá-los o que se encontrava era apenas o check-list dos afazeres diários... os textos, que outrora se resguardavam na minha memória se transformam agora em no que preciso comprar no supermercado e na avaliação dos trabalhos acadêmicos dos meus alunos.
Sempre me orgulhei da minha ótima memória (herança do meu avô materno), porém tenho a impressão de que depois dos 30 ela tem começado a falhar. Cadê meus textos que estavam aqui ainda ontem?
Eu tinha elaborado um texto pra externar a saudade do meu irmão, comparando com a sensação que tive quando aos 17 anos tive que ir morar em outra cidade e o quanto isso acabou me matando de saudade... em 2005 meu irmão estava descobrindo as maravilhas e dissabores da adolescência e eu não estava do lado dele pra acompanhá-lo. Foi assim até 2008 quando ficamos juntos novamente, mas todo mundo acha que a gente sempre morou junto... e pensando melhor, acho que estão certos: moramos no coração um do outro, impossível estar mais junto que isso. Mas faz falta... a risada, as brincadeiras, a preocupação, o cuidado... as séries que assistimos juntos (How I Met Your Mother, Altered Carbon, Friends, Chaves, Chapolim), os desenhos (O fantástico mundo de Bob, Pica Pau, Tom e Jerry), filmes (Velozes e furiosos, Guardiões da Galáxia e aquelas comédias românticas que ele escolhia e eu adorava criticar dizendo que era clichê, mas na verdade eu me divertia) e, claro, nosso anime favorito desde a infância (Cavaleiros do zodíaco).
Faz falta também aquela amizade de quem te escreveu cartas, fez desenhos e orações, de quem te abraçava toda vez que te encontrava e que sem mais nem menos, sem apresentar nenhum motivo, se afastou, te ignorou, te anulou e sequer te cumprimenta mais, nem por educação. Como entender? Como acreditar de novo em novas amizades?
Ora, seguindo... quem suporta a saudade do irmão que está em outro estado, dos pais e do namorado que moram num outro estado, dos amigos que moram longe, então se pode suportar qualquer coisa, concorda?
E o fato de não ter sido aprovada nos concursos públicos ainda é a mostra de que  é preciso nos fortalecer, amadurecer ainda mais, endurecer se for necessário, mas jamais deixar de acreditar na possibilidade das novas amizades, das novas histórias e fotografias a serem compartilhadas e a minha turma do primeiro período de Educação Física tem sido uma dádiva nesse sentido.
Portanto, mesmo com as perdas, com as lutas e as dificuldades de suportar tudo o que acontece na vida, a gente vai resistindo, tentando manter a sanidade apesar da loucura que é este mundo.
Então a gente vai seguindo, sorrindo, torcendo por dias melhores, agradecendo pelas boas pessoas que aparecem em nosso caminho e pelas que se retiraram também. As pessoas devem ser livres para ir e vir como eu tenho feito nessa jornada. No fim das contas o itinerário Manhuaçu-Vitória que realizo desde 2016 não é tão longo assim... Profunda mesmo é a capacidade que tenho desenvolvido de seguir mesmo com e apesar de todas as adversidades... e não apenas seguir, mas seguir sorrindo, vibrando amor e paz. Agora é hora de dormir que amanhã tem dois boletos para pagar, tem prova para elaborar, tem aula pra planejar e uma sombrinha pra comprar.