domingo, 11 de maio de 2014

2014? Não... 2005 mesmo!

O passado resolveu voltar de novo:


Dessa vez ele bateu de leve na minha porta, mas ela já estava entreaberta, exatamente do mesmo jeito que ele havia deixado da última vez em que tinha aparecido. Nem precisou me pedir permissão para entrar, já conhecia o caminho, foi logo chegando, se sentando, me cumprimentando, me amansando e conversando sobre coisas que eu nem sabia que lembraria mais... Eu ofereci um chá, ele preferiu café, queria se manter bem alerta, garantir que ficaria acordado o máximo de tempo possível e assim não me deixar dormir. Ficou ali encostado no cantinho do sofá me fisgando com aquele olhar, com um sorriso de satisfação no canto da boca. Fiquei intrigada com aquele comportamento, embora não fosse a primeira vez que ele se portava assim...
Eu falei para ele que concordava com Mário de Andrade quando este disse que "O passado não reconhece o seu lugar, está sempre presente". Ao ouvir isso, ele simplesmente zombou de mim, cruzou os braços e disse que sempre seria assim, então que eu parasse de reclamar pois, mesmo que eu não quisesse, ele estaria comigo em qualquer lugar que eu fosse, independente de espaço e tempo. Fiquei incomodada com a resposta dele, por que simplesmente o passado não permanecia no passado? Não seria mais simples se fosse assim? Não entendo o porquê dele sempre me visitar, só para me lembrar e reforçar, que um dia andamos juntos, lado a lado, de mãos dadas. Ele não me deixa esquecer, por mais que eu tente me manter afastada, volta e meia ele vem me visitar e me abraça forte, não me deixa mesmo escapar...

Pedi para ele me deixar em paz. Ele me disse que já é a minha paz.
Eu disse para ele que eu estava muito bem aqui, e a presença dele não é era tão bem vinda assim.
Ele nem respondeu, fingiu que não me ouviu (ou será que ele não acreditou no que eu falei?)
Apenas passou a mão em meu rosto e me disse: "Não tardará a ter rugas, precisa cuidar mais dessa pele, está usando filtro solar? Precisa se hidratar, se cuidar, vá malhar! Para de comer essas porcarias, você tem as mesmas manias de 10 anos atrás".
Mas em nenhum momento eu pedi a opinião dele! Oche, quem disse que eu me importo com o que ele pensa? Eu só queria vê-lo bem longe daqui, que ele se afastasse de mim... Eu estava cansada, não queria mais perder tempo com ele, tinha tantas coisas para fazer. Mas ele não se importou com isso, disse que eu não precisaria me preocupar, porque para ele só bastava estar aqui do meu lado... Respirei fundo, o jeito seria me render e me conformar, simplesmente aceitar que ele queria ficar e nada, nem mesmo eu, poderia impedi-lo de me acompanhar... Procurei um abrigo para ele do lado de fora da minha casa. Vichi, ele não gostou nem um pouco dessa minha atitude, ficou me provocando, disse que até o cachorro dorme na minha cama, por que ele deveria ficar do lado de fora?
Então, no meio da noite eu ouvi ele entrando no meu quarto (esqueci de trancar a porta - de novo!) na ponta dos dedos, e então deitou do meu lado, queria dormir comigo e de repente, ele apareceu em meus sonhos (ou eram pesadelos? não me lembro mais) só sei que quando acordei a primeira coisa que pensei foi: "Passado, cadê você? Já me deixastes de novo? Volta logo... Estarei sempre aqui te esperando com uma xícara de chá na mão".


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