Fui a uma palestra do professor Newton Duarte há uns dois anos quando o mesmo esteve na UFES para falar sobre a precarização do trabalho do professor. Tema bastante pertinente pra mim, que fiz a dissertação também sob este parâmetro. Recentemente, enquanto organizava meus documentos, livros e rabiscos, encontrei um registro feito à caneta esferográfica azul, com minha letra miúda e desajustada e era justamente a respeito dessa palestra. Esqueci de colocar a data, então estou refém da minha memória... acredito que tenha sido no ano de 2015 ou início de 2016...
Fiquei pensando, analisando a leitura e me recordando das palavras que o professor Newton Duarte usou naquela manhã em uma palestra que eu ficaria horas, dias...
Tem coisas que acontecem e a gente mal percebe, quase nunca se dá conta de fato, mas são essas que nos enriquecerem na nossa ínfima condição de ser humano. Lembro que o professor palestrante falou sobre um monte de coisas que eu já sabia, outras que eu nem lembrava mais que sabia e mais algumas que me despertaram para coisas que não havia pensado ainda. Uma dessas me marcou profundamente e me fez pensar e analisar o andamento da minha vida...
Me recordo do professor Newton Duarte dizendo "na sociedade capitalista você trabalha pela sobrevivência, pela necessidade de adquirir o dinheiro que garante a sua subsistência. Na sociedade comunista você trabalha pela necessidade de de fazer aquilo que você precisa para atingir a sua plenitude enquanto ser humano". Essa foi uma das falas que estavam registrada no esboço que escrevi no dia da palestra. E então, associei com alguns trechos de um livro que li recentemente do professor Mario Sérgio Cortella (Por que fazemos o que fazemos?), em algumas passagens do livro me delonguei um pouco mais, uma delas foi: "Temos de trabalhar! podemos fazê-lo para mera obtenção da sobrevivência ou também como um modo de marcar nossa presença no mundo". Que no final das contas se assemelha muito com a frase do Newton Duarte apesar de não deixar escancarado para o leitor a questão da luta de classes.
Então fico pensando... se eu não fosse professora, o que seria? o que me faz ter necessidade de me fazer atingir a minha plenitude como ser humano? será que apenas existo ou deixo a marca da minha presença no mundo?
Sim, eu amo a minha profissão. Sim, eu deveria ganhar mais. Sim, apesar de me reconhecer no que faço e de me sentir realizada com a docência, eu trabalho para sobreviver. E... não, eu não me sinto plena vivendo nesta sociedade e o problema não é o lugar onde estou ou o que faço, mas a forma como as coisas estão estabelecidas neste sistema econômico ao qual estamos invariavelmente submetidos.
O professor Newton Duarte disse que "o trabalhador não é sujeito da sua atividade, ele é instrumento da sua atividade de trabalho. No caso do professor isso se agrava de tal forma porque a depender do nível de alienação do professor, o produto final de seu trabalho poderá ter sua qualidade comprometida, o que não acontece em outras profissões, que independente do grau de alienação do trabalhador, o produto não terá interferências em sua qualidade".
No livro Por que fazemos o que fazemos? o professor Cortella diz que "Nós fazemos o trabalho, mas em certo sentido, ele também nos faz. Isso acontece na medida em que o trabalho ajuda a moldar as nossas habilidades e competências. As atividades que realizamos contribuem para formar a nossa identidade profissional".
E refletindo sobre o que estes mestres ensinam, eu percebo que se a nossa sociedade tivesse outros propósitos que não apenas o lucro a qualquer custo, talvez então eu não fosse somente professora... talvez eu fosse também escritora... imagine só: viver das palavras e não apenas do processo pedagógico de ensinar! Quando escrevo é quando me sinto plena, sem medos de errar ou de me arrepender. Porém, a plenitude do ato de escrever não anula nem diminui a plenitude do ato de ensinar. Gosto de me sentir plena nessas duas atividades. Porque ao escrever ensino melhor e ensinando tenho melhores condições de escrever e protagonizar a minha história.
segunda-feira, 20 de novembro de 2017
sábado, 18 de novembro de 2017
resquícios de lembranças
Se passaram 4 meses desde a última vez que publiquei um texto neste espaço.
Eu ainda estava na casa dos 20...
Estava feliz e radiante com a minha profissão, estava confiante e esperançosa quanto ao que o futuro nos traria... e ele trouxe. Veio com tudo! Ele chegou, o futuro é agora. Enquanto escrevo (digito) estas palavras, passado e futuro se imbricam, se cruzam, se alinham e me desafiam...
Sempre que me vejo diante de situações que me causam desconforto emocional venho direto para este espaço e me lembro de uma frase da Clarice Lispector que diz bem assim: "a palavra é o meu domínio sobre o mundo".
Não sei o que virá amanhã, e a próxima semana pode mudar o rumo de toda uma história, de toda a minha história. Mas enquanto eu estiver aqui, enquanto estas palavras refletirem sobre passado e futuro, enquanto eu conseguir me lembrar de tudo o que já aconteceu e do que deixou marcas e cicatrizes infestadas sob meu (in)consciente... então tudo estará dominado por mim. Eu sou soberana diante dessas palavras, que em muitos momentos, não passam de simples devaneios entre uma pilha de livros e de temas a serem estudados e desenvolvidos devido à profissão que escolhi seguir...
Esse texto não passa de uma mera condensação de resquícios de memórias alojadas no íntimo do meu ser... São só palavras... a maioria delas não faz o menor sentido pra você, não apresenta nenhum significado e nem vai te acrescentar algo de novo ou de importante pra sua vida (sinto muito por isso, me dói um pouco saber que você leu até aqui e já te aviso que não precisa mais seguir adiante com a leitura, estou sendo sincera, você perderá seu tempo se vier aqui para entender este texto). Mas é que neste momento estas palavras são tudo o que tenho: minha vida inteira está neste emaranhado desconexo de frases e lembranças escritas e por mais que não estejam estruturadas e organizadas numa sequência lógica, já disse outrora que minha lógica não faz o menor sentido no campo da realidade. E neste ponto eu me recordo de outra frase da Clarice que diz: "não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada". E nessa in(ter)venção de verdade(s) consigo olhar para trás e para frente ao mesmo tempo em que ambas as bifurcações se encontram no agora.
É isso: esses resquícios de lembranças do que passou e do que está por vir se fundem neste exato momento... e por mais que pareça estranho lembrar de algo que nunca aconteceu, não significa que nunca acontecerá. Agora é madrugada e eu só tenho uma certeza: amanhecerá... não sei se eu estarei viva quando isso acontecer. Agora que já estou na casa dos 30, qualquer dia a mais não é somente um dia a menos, mas também uma oportunidade a mais de fazer diferente, de construir novas recordações, novas lembranças, novos textos e novas reflexões, embora aquelas palavras de outrora , venham sempre acompanhadas com as de agora.
E eu, que sou fascinada pela genialidade do Humberto Gessinger desde os 16... me vejo hoje, cada vez mais entregue à sutileza e profundidade da Clarice Lispector, esta que pensei que jamais conseguiria entender, quando li A hora da estrela pela primeira, segunda e terceira vez seguida, aos 14... Como pode alguém escrever como ela escreveu? Como pode alguém compor belíssimas canções como HG fez/faz? Enquanto eu os contemplo através de suas obras, encerro com outra frase da CL: "escrever é prolongar o tempo, é dividi-lo em partículas de segundos, dando a cada uma delas uma vida insubstituível".
O que seria da minha vida sem estes momentos de devaneios, de construção de texto sem nenhum tipo de compromisso ou responsabilidade com as normas técnicas da escrita padrão? Haveria um vazio... na verdade, pra ser sincera, ainda há, mas este vazio está sendo preenchido agora com os resquícios de lembranças que ora se perdem e ora se conectam em minha memória e dão vida à este texto. Agora sim, posso voltar tranquila para os meus afazeres, a alma está aliviada porque este texto nasceu e em breve se tornará apenas um vestígio da lembrança do que vivi hoje.
Eu ainda estava na casa dos 20...
Estava feliz e radiante com a minha profissão, estava confiante e esperançosa quanto ao que o futuro nos traria... e ele trouxe. Veio com tudo! Ele chegou, o futuro é agora. Enquanto escrevo (digito) estas palavras, passado e futuro se imbricam, se cruzam, se alinham e me desafiam...
Sempre que me vejo diante de situações que me causam desconforto emocional venho direto para este espaço e me lembro de uma frase da Clarice Lispector que diz bem assim: "a palavra é o meu domínio sobre o mundo".
Não sei o que virá amanhã, e a próxima semana pode mudar o rumo de toda uma história, de toda a minha história. Mas enquanto eu estiver aqui, enquanto estas palavras refletirem sobre passado e futuro, enquanto eu conseguir me lembrar de tudo o que já aconteceu e do que deixou marcas e cicatrizes infestadas sob meu (in)consciente... então tudo estará dominado por mim. Eu sou soberana diante dessas palavras, que em muitos momentos, não passam de simples devaneios entre uma pilha de livros e de temas a serem estudados e desenvolvidos devido à profissão que escolhi seguir...
Esse texto não passa de uma mera condensação de resquícios de memórias alojadas no íntimo do meu ser... São só palavras... a maioria delas não faz o menor sentido pra você, não apresenta nenhum significado e nem vai te acrescentar algo de novo ou de importante pra sua vida (sinto muito por isso, me dói um pouco saber que você leu até aqui e já te aviso que não precisa mais seguir adiante com a leitura, estou sendo sincera, você perderá seu tempo se vier aqui para entender este texto). Mas é que neste momento estas palavras são tudo o que tenho: minha vida inteira está neste emaranhado desconexo de frases e lembranças escritas e por mais que não estejam estruturadas e organizadas numa sequência lógica, já disse outrora que minha lógica não faz o menor sentido no campo da realidade. E neste ponto eu me recordo de outra frase da Clarice que diz: "não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada". E nessa in(ter)venção de verdade(s) consigo olhar para trás e para frente ao mesmo tempo em que ambas as bifurcações se encontram no agora.
É isso: esses resquícios de lembranças do que passou e do que está por vir se fundem neste exato momento... e por mais que pareça estranho lembrar de algo que nunca aconteceu, não significa que nunca acontecerá. Agora é madrugada e eu só tenho uma certeza: amanhecerá... não sei se eu estarei viva quando isso acontecer. Agora que já estou na casa dos 30, qualquer dia a mais não é somente um dia a menos, mas também uma oportunidade a mais de fazer diferente, de construir novas recordações, novas lembranças, novos textos e novas reflexões, embora aquelas palavras de outrora , venham sempre acompanhadas com as de agora.
E eu, que sou fascinada pela genialidade do Humberto Gessinger desde os 16... me vejo hoje, cada vez mais entregue à sutileza e profundidade da Clarice Lispector, esta que pensei que jamais conseguiria entender, quando li A hora da estrela pela primeira, segunda e terceira vez seguida, aos 14... Como pode alguém escrever como ela escreveu? Como pode alguém compor belíssimas canções como HG fez/faz? Enquanto eu os contemplo através de suas obras, encerro com outra frase da CL: "escrever é prolongar o tempo, é dividi-lo em partículas de segundos, dando a cada uma delas uma vida insubstituível".
O que seria da minha vida sem estes momentos de devaneios, de construção de texto sem nenhum tipo de compromisso ou responsabilidade com as normas técnicas da escrita padrão? Haveria um vazio... na verdade, pra ser sincera, ainda há, mas este vazio está sendo preenchido agora com os resquícios de lembranças que ora se perdem e ora se conectam em minha memória e dão vida à este texto. Agora sim, posso voltar tranquila para os meus afazeres, a alma está aliviada porque este texto nasceu e em breve se tornará apenas um vestígio da lembrança do que vivi hoje.
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