sábado, 18 de novembro de 2017

resquícios de lembranças

Se passaram 4 meses desde a última vez que publiquei um texto neste espaço.
Eu ainda estava na casa dos 20...
Estava feliz e radiante com a minha profissão, estava confiante e esperançosa quanto ao que o futuro nos traria... e ele trouxe. Veio com tudo! Ele chegou, o futuro é agora. Enquanto escrevo (digito) estas palavras, passado e futuro se imbricam, se cruzam, se alinham e me desafiam...

Sempre que me vejo diante de situações que me causam desconforto emocional venho direto para este espaço e me lembro de uma frase da Clarice Lispector que diz bem assim: "a palavra é o meu domínio sobre o mundo".
Não sei o que virá amanhã, e a próxima semana pode mudar o rumo de toda uma história, de toda a minha história. Mas enquanto eu estiver aqui, enquanto estas palavras refletirem sobre passado e futuro, enquanto eu conseguir me lembrar de tudo o que já aconteceu e do que deixou marcas e cicatrizes  infestadas sob meu (in)consciente... então tudo estará dominado por mim. Eu sou soberana diante dessas palavras, que em muitos momentos, não passam de simples devaneios entre uma pilha de livros e de temas a serem estudados e desenvolvidos devido à profissão que escolhi seguir...

Esse texto não passa de uma mera condensação de resquícios de memórias alojadas no íntimo do meu ser... São só palavras... a maioria delas não faz o menor sentido pra você, não apresenta nenhum significado e nem vai te acrescentar algo de novo ou de importante pra sua vida (sinto muito por isso, me dói um pouco saber que você leu até aqui e já te aviso que não precisa mais seguir adiante com a leitura, estou sendo sincera, você perderá seu tempo se vier aqui para entender este texto). Mas é que neste momento estas palavras são tudo o que tenho: minha vida inteira está neste emaranhado desconexo de frases e lembranças escritas e por mais que não estejam estruturadas e organizadas numa sequência lógica, já disse outrora que minha lógica não faz o menor sentido no campo da realidade. E neste ponto eu me recordo de outra frase da Clarice que diz: "não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada". E nessa in(ter)venção de verdade(s) consigo olhar para trás e para frente ao mesmo tempo em que ambas as bifurcações se encontram no agora.

É isso: esses resquícios de lembranças do que passou e do que está por vir se fundem neste exato momento... e por mais que pareça estranho lembrar de algo que nunca aconteceu, não significa que nunca acontecerá. Agora é madrugada e eu só tenho uma certeza: amanhecerá... não sei se eu estarei viva quando isso acontecer. Agora que já estou na casa dos 30, qualquer dia a mais não é somente um dia a menos, mas também uma oportunidade a mais de fazer diferente, de construir novas recordações, novas lembranças, novos textos e novas reflexões, embora aquelas palavras de outrora , venham sempre acompanhadas com as de agora.

E eu, que sou fascinada pela genialidade do Humberto Gessinger desde os 16... me vejo hoje, cada vez mais entregue à sutileza e profundidade da Clarice Lispector, esta que pensei que jamais conseguiria entender, quando li A hora da estrela pela primeira, segunda e terceira vez seguida, aos 14... Como pode alguém escrever como ela escreveu? Como pode alguém compor belíssimas canções como HG fez/faz? Enquanto eu os contemplo através de suas obras, encerro com outra frase da CL: "escrever é prolongar o tempo, é dividi-lo em partículas de segundos, dando a cada uma delas uma vida insubstituível".
O que seria da minha vida sem estes momentos de devaneios, de construção de texto sem nenhum tipo de compromisso ou responsabilidade com as normas técnicas da escrita padrão? Haveria um vazio... na verdade, pra ser sincera, ainda há, mas este vazio está sendo preenchido agora com os resquícios de lembranças que ora se perdem e ora se conectam em minha memória e dão vida à este texto. Agora sim,  posso voltar tranquila para os meus afazeres, a alma está aliviada porque este texto nasceu e em breve se tornará apenas um vestígio da lembrança do que vivi hoje.


3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Há quanto tempo. (:
    Estava mesmo devendo uma visita aqui. Por sorte ou obra do acaso, não sei ao certo, o blogger voltou a atualizar a minha lista de blogs e pude ver sua postagem no topo, o que me ajudou a vir aqui hoje.

    Como sempre uma leitura agradável mesmo pra mim, que tem aversão à leitura... ^^

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  3. Oi Junior, parceiro de blog anônimo! É um prazer receber sua visita. Obrigada pelo carinho, agora a dívida é minha, sou eu quem preciso ir visitá-lo e ainda bem que não tenho aversão à leitura, porque daí vou ler seus textos com muita felicidade. Vamos caminhando juntos, irmão, mesmo que um esteja no norte e outro no sudeste...

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